quarta-feira, 4 de novembro de 2015


Minha avó Benvinda faz 92 anos de idade em janeiro de 2016. Sete filhos, quinze netos, oito bisnetos e 25 anos de yoga. Há um tempo queria escrever sobre a sua história de yoga e então, ontem, liguei pra ela aqui de Brasília, e fiz uma mini entrevista. Ela me contou que começou praticando na rua Pernambuco, com a dona Maria, perto da Praça da Savassi, em Belo Horizonte, cidade onde mora até hoje. “A gente fazia a aula de meia branca e blusa branca e, no final da aula, a dona Maria cobria a gente com cobertor”. Depois começou a praticar com a professora Teresa, na ACM, da rua Aimorés, e por lá ficou uns dez anos. “Quando o prédio da ACM foi vendido e eles destruíram tudo, a Teresa mudou pra rua Pernambuco, olha a coincidência, e eu fui junto. Era um salão bom, todo forrado de feltro, não precisava de colchonete. Mas a aula era muito cedo, eu tinha que pegar dois ônibus da minha casa até lá, acordava cedo demais! Aí fiquei sabendo que tinha uma aula no salão paroquial da Igreja de Santana, na Serra, à tarde, e fui pra lá. A professora era a Fátima. Lá eu fiquei um tempão. Mas o trânsito começou a ficar muito ruim e a aula era no horário que todo mundo saía do trabalho, eu pegava os ônibus cheios, decidi sair. Fui pro Sesc, no Centro. Era uma sala boa, grande, tinha tudo. Mas um dia chegou uma turma de dança de salão e tomou nosso espaço. A gente teve que ir pra uma salinha pequena, virada pro barulhão da rua, na hora do relaxamento a gente só escutava buzina de carro e freiada de ônibus. Era muito barulho. Foi quando soube que a Fátima, da Igreja de Santana, tava dando aula na rua Tupis, atrás da Igreja São José, e fui pra lá. Tô lá com ela. A sala é muito boa, de taco, ela deu um sinteco, ficou ótima! É de 4h às 5h.” Pergunto pra ela se, nesses 25 anos de yoga, já parou de praticar. “Não, minha filha, nunca parei. Sempre fiz direto. Só quando, às vezes, vou pra casa de Edma (uma das filhas, que mora em Itajubá) e fico lá uma semana inteira, aí falto a yoga. Mas quando volto pra Belo Horizonte, volto pra aula.” “Vovó, a senhora sempre fez aula duas vezes por semana?” “Foi, sempre duas vezes. Agora tô fazendo só uma vez, porque tenho dor nas pernas pra subir aquele morro grande pra chegar na aula.” “Vovó, mas a senhora já falou com a professora sobre essa dor? Já procurou um médico?” “Já, já falei. É assim: ela me dá uns exercícios pra fazer, eu faço e volto boa boa pra casa, mas pra ir é que é difícil. Já fui no médico também e ele me disse que num tem doença nenhuma não, que isso é velhice.” “E o que a senhora mais gosta nas aulas?” “Ah, eu gosto de acostumar com as pessoas, ter amizade com as colegas, tem festa, a gente vai, tem uns exercícios que a gente ri muito, tem que rir! Uma ria da outra, se alguém passasse na porta da aula, ia chamar a gente de louco, todo mundo rindo! Esse ano teve um encontro em Araxá, foi muito bom! Tinha gente da Índia, de tudo quanto é canto, aí a professora me chamou pra falar lá na frente. Ano que vem tem outro de novo em Araxá e eu vou.” “Vovó, o que a senhora aprendeu de mais importante, de mais válido, nesses 25 anos de yoga?” “Eu aprendi que a gente nunca deve ficar parado dentro de casa. Quando a gente gosta da gente, a gente tem que fazer alguma coisa que a gente gosta, e eu gosto de yoga.” Desliguei o telefone com aquela saudade boa e um sorriso de siso a siso. Vovó Benvinda, como não amar?

terça-feira, 6 de janeiro de 2015